quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

História ambiental da erva-mate

       Já está disponível a Tese de Doutorado de Marcos Gerhardt defendida em 2013, na Universidade Federal de Santa Catarina, intitulada "História ambiental da erva mate". Aqui faço uma breve apresentação da obra - não se trata de uma resenha - para divulgar e convidar os interessados ao desfrute da leitura desse estudo. 

GERHARDT, Marcos. História ambiental da erva mate. Tese de Doutorado. PPG História da UFSC, 2013.

Foto: Sérgio Campestrini. Fonte: http://www.ufrgs.br/fitoecologia/florars/open_sp.php?img=5966

         O excelente trabalho, fruto de quatro anos de pesquisa, orientado pela Profa. Dra. Eunice Nodari,  busca responder a seguinte pergunta: por que e como a maioria dos ervais nativos desapareceu durante o século XIX e nas décadas iniciais do século XX? Para responder a questão, o autor pesquisou a presença e o uso desta planta em uma ampla área que corresponde a parte dos atuais territórios dos estados brasileiros do Rio Grande do Sul, de Santa Catarina, do Paraná e do Mato Grosso do Sul e ainda do Norte da Argentina e do Sudeste do Paraguai. 

Mapa elaborado por Gerhardt (2013, p. 35).

          Já existem trabalhos sobre a erva mate, mas faltava um estudo do ponto de vista da história ambiental, que pesquisasse "a planta e as sociedades humanas ligadas a ela em uma complexa dinâmica florestal, natural e cultural, em suas interações biológicas com a Araucária angustifolia e com outras espécies animais e vegetais. O foco incide nas mudanças socioambientais que estavam em curso durante o século XIX e no início do XX" (GERHARDT, 2013, p. 17-18).
Folhas da erva-mate. Foto: Marcos Gerhardt

     A tese se divide em quatro capítulos. O primeiro, A Ilex paraguariensis nas florestas da América Meridional, utilizando uma abordagem interdisciplinar, trata as interações da planta com outras espécies que habitavam o mesmo ecossistema, as percepções que viajantes e cronistas tiveram sobre as florestas americanas do século XIX, e as compreensões que estes elaboraram, especialmente o discurso do lugar intocado, da “floresta virgem”. O segundo capítulo, O extrativismo e a conservação dos ervais, aborda as diversas técnicas de coleta e de preparo do mate, o trabalho em meio as florestas, seu significado socioeconômico, as relações socioculturais entre os diversos grupos humanos envolvidos, e também os discursos que expressam compreensões humanas sobre o ambiente. Além disso, são enfocados os esforços e tentativas governamentais para regular o acesso aos ervais nativos, assegurar a arrecadação de impostos e promover sua conservação. O capítulo três, Colonos ervateiros, concentra-se no envolvimento de colonos que migraram da Europa para o Sul da América com o extrativismo e com o cultivo da erva-mate. O quarto e último capítulo, Quem bebe mate tem vida longa, trata da propaganda da erva-mate em países europeus e nos Estados Unidos da América. Nele são analisados os argumentos usados para tentar criar novos mercados consumidores para o mate americano, marcados por um discurso científico que enfatizou e exagerou as qualidades terapêuticas, nutricionais e tônicas das bebidas preparadas com a Ilex.
      Neste último capítulo, Gerhardt analisa interessantes imagens presentes em folheto de divulgação da erva mate, guardado no Instituto Ibero-Americano (Ibero-Amerikanisches Institut), em Berlim. Em uma delas, reproduzida abaixo, sugere-se que a bebida faz aumentar o leite materno e é bom para a saúde das crianças.
Reproduzido de Gerhardt (2013, p. 234)

     A pesquisa de Gerhardt, seguindo a premissa da interdisciplinariedade da história ambiental, estabelece um diálogo e compartilha conceitos com outras ciências, como a Geografia, a Biologia, a Química e a Ecologia. Com um trabalho rigoroso, utilizando uma gama variada de fontes - e em grande quantidade - o autor traz uma relevante contribuição à história ambiental, ao abordar as interações dos seres humanos com a Ilex paraguariensis, planta tão importante para o Sul do Brasil, assim como para os países vizinhos que também a apreciam. A pesquisa conclui que houve profundas mudanças socioambientais nas florestas e nos ervais e que elas decorreram de uma complexa combinação de motivos, especialmente as alterações na legislação, a imigração, os projetos de colonização, o aumento populacional, a pressão do mercado ervateiro, a ação do Estado e as modificações tecnológicas. 
  Para o download da tese, é só clicar no link: http://gerhardt.pro.br/doc/historia-ambiental-erva-mate.pdf

              Boa leitura!

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