segunda-feira, 16 de novembro de 2009

O Sol é nosso! meu artigo publicado na ZH, 15/11/2009

O Sol é nosso!

Elenita Malta Pereira

     Às vésperas da Conferência da ONU sobre mudanças climáticas, a COP-15, seria interessante colocar algumas questões a respeito do posicionamento do Brasil no cenário atual. A Conferência parte da premissa de que a temperatura da Terra pode aumentar, no máximo, 2 ºC, para que as condições de vida no planeta se mantenham tal como conhecemos hoje. Há uma corrida contra o tempo para impedir que isso ocorra, entretanto as emissões de gases que causam o aquecimento global têm aumentado ano a ano. Os organizadores do encontro possuem a árdua tarefa de convencer os países desenvolvidos e emergentes a assinarem um acordo, comprometendo-se com metas corajosas de redução de emissões.

     O Brasil, dono da maior floresta do planeta, um sumidouro altamente eficaz de carbono, deveria ocupar uma posição confortável na reunião. Porém, o alto índice de desmatamento na Amazônia, apesar do recente anúncio de redução em 45% no período entre agosto de 2008 e julho de 2009, demonstra que ainda há muito a ser feito pela preservação da natureza no país. Além disso, no debate ambiental, há contradições graves na maneira como os problemas são colocados. De um lado, é louvável o desenvolvimento de tecnologias avançadas para a produção do biodiesel, o que coloca o Brasil em destaque; por outro lado, investe-se somas altíssimas na exploração do petróleo da camada pré-sal, vista pelos governantes como passaporte para o ingresso do país no mundo desenvolvido.
     Entretanto, pouco se tem falado dos possíveis danos ambientais consequentes da exploração do pré-sal. Não haverá conseqüências geológicas, ao se perfurar uma camada com sete mil metros de profundidade? Cientistas já afirmam que haverá a liberação de uma grande quantidade de carbono, retido na camada pré-sal há milhões de anos, para a superfície. E também a poluição gerada pela exploração poderá afetar a biodiversidade marinha. Mas o pior de tudo é que continuaremos queimando combustíveis fósseis, que é uma das causas do aquecimento global. Completa a posição paradoxal do Brasil o fato de que recebemos grande quantidade de radiação solar e não a aproveitamos energeticamente. Nosso potencial para geração de energia solar é muito maior do que a Alemanha, líder mundial no assunto. Aqui, alega-se que o custo para implantação de usinas solares é alto, entretanto sabemos que muito dinheiro foi investido no pré-sal. No meio de tantas contradições, deveríamos empreender uma nova campanha, em alusão à que houve nos anos 40 e 50, “o petróleo é nosso”. Num contexto em que precisamos urgentemente mudar nossa matriz energética, Estado e sociedade deveriam unir-se, só que, desta vez, com o lema “o Sol é nosso!”

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