Rio ou lago? O debate que envolve questões técnicas e políticas sobre o curso d'água que banha Porto Alegre não ofusca o brilho de seu famoso pôr-do-Sol. Por mais estranho que possa parecer nos dias atuais, o Guaíba já ofereceu bons banhos aos porto-alegrenses em suas praias. Infelizmente, suas águas sofreram dos males do progresso e da modernidade e se encontram bastante poluídas. Um banho hoje é impensável, mas já houve um tempo que suas praias viviam apinhadas aos finais-de-semana de verão.
Mulher passeando de maiô, 1944. |
A relação dos porto-alegrenses com o Guaíba, ao longo da história, foi um tanto ambígua: se por um lado, muitos cultivaram o gosto por suas praias, por outro, sua poluição só foi contestada nos anos 1970, quando os banhos foram proibidos. A dissertação de mestrado de Antônio João Dias Prestes, O rio se renova, permitindo que os erros do passado sejam corrigidos: Estado e sociedade nas iniciativas para a recuperação ambiental do Guaíba (1979-2004), defendida em 2012 na UFRGS, é um trabalho de história ambiental que abordou as praias de Porto Alegre como tema, para entender melhor a relação da população local com o Guaíba e como ela participou das decisões políticas para seu melhoramento ambiental.
Banho de água e de sol no Guaíba, 1965. |
Segundo Antônio Prestes, o uso mais intenso das praias do Guaíba ocorreu entre 1940-1970, período de grande aumento populacional e industrialização. Elas representavam um local onde seria possível uma "convivência social mais aberta e uma alternativa de fuga para os dias tórridos do verão porto-alegrense" (PRESTES, 2012, p. 83). A maioria dos frequentadores era de classe média, menos favorecidos, que chegavam às praias de ônibus.
População tomando ônibus para as praias e cena da praia de Ipanema, 1957 |
No entanto, apesar dos banhos frequentes, para Prestes, "Porto Alegre não se apropriou de sua orla praiana", ao ponto desse hábito tornar-se "traço relevante na formação de uma identidade porto-alegrense mais ampla" (p. 93). Com o aumento populacional da região metropolitana, o Guaíba passou a receber mais e mais esgotos doméstico e industrial in natura. A partir dos anos 1960, o tema da poluição do Guaíba e de suas praias começou a ser abordado na imprensa. Os banhistas passaram a ser alertados dos riscos que corriam, pois as águas estavam cada vez mais contaminadas.
Finalmente, em 1973, as praias do Guaíba foram interditadas. Placas avisavam a população do perigo dos banhos.
Mas foi também a partir dos anos 1970, com a fundação da AGAPAN e outras entidades ambientalistas, que a poluição do Guaíba começou a ser contestada de forma mais frequente. Planos de recuperação, como o "Projeto Rio Guaíba", lançado pelo governo do Rio Grande do Sul em 1980, geraram complexos debates entre técnicos e ambientalistas.
Prestes aborda também o "Pró-Guaíba" (projeto do governo do estado) e o "Guaíba Vive" (programa desenvolvido pela prefeitura de Porto Alegre), ambos lançados em 1989. Até o momento, esses programas "alcançaram resultados modestos, no que diz respeito à despoluição do Guaíba" (PRESTES, 2012, p. 20). A situação atual do Pró-Guaíba foi assunto de matéria no Jornal Extra-Classe (Aqui).
Em março de 2014, foi inaugurado o Projeto Integrado Socioambiental (PISA), que tem como principal objetivo ampliar a capacidade de tratamento de esgoto de Porto Alegre de 27% para 77% e, dessa forma, promete contribuir para a retomada da balneabilidade do Guaíba. Essa importante obra vai contribuir para a melhoria da qualidade da água da capital, no entanto, é interessante perceber o quanto ela demorou para entrar em operação. Porto Alegre esteve, de fato, como disse a presidenta Dilma, no ato de inauguração, "de costas para o Guaíba" por muito tempo.
Resta saber se a recuperação de suas águas será suficiente para que a população se sensibilize de fato com a importância que o Guaíba tem para a cidade, muito além do belo pôr-do-sol...
Prestes aborda também o "Pró-Guaíba" (projeto do governo do estado) e o "Guaíba Vive" (programa desenvolvido pela prefeitura de Porto Alegre), ambos lançados em 1989. Até o momento, esses programas "alcançaram resultados modestos, no que diz respeito à despoluição do Guaíba" (PRESTES, 2012, p. 20). A situação atual do Pró-Guaíba foi assunto de matéria no Jornal Extra-Classe (Aqui).
Em março de 2014, foi inaugurado o Projeto Integrado Socioambiental (PISA), que tem como principal objetivo ampliar a capacidade de tratamento de esgoto de Porto Alegre de 27% para 77% e, dessa forma, promete contribuir para a retomada da balneabilidade do Guaíba. Essa importante obra vai contribuir para a melhoria da qualidade da água da capital, no entanto, é interessante perceber o quanto ela demorou para entrar em operação. Porto Alegre esteve, de fato, como disse a presidenta Dilma, no ato de inauguração, "de costas para o Guaíba" por muito tempo.
Estação de Tratamento Serraria. Foto de divulgação PMPA, 2014. |
Para aprofundar essa história, o download da dissertação do Antônio Prestes pode ser realizado a partir do link abaixo:
Vale a pena ler!
Prezada, sugiro para complementar este breve estudo, que sejam pautados os seguintes programas pioneiros e que muito colaboraram para a luta de devolver um Guaíba limpo para as pessoas: PRO-GUAÍBA (programa do governo do estado) e Programa Guaíba Vive da Prefeitura de Porto Alegre.
ResponderExcluirPrezado Carlos, incluí um parágrafo sobre os respectivos programas. Sugiro que leias a dissertação do Antônio Prestes, indicada no link acima, ele dedica um capítulo para cada um dos projetos que mencionaste. Aqui, minha intenção foi, na verdade, levantar o tema e convidar à leitura da dissertação, que o aborda em profundidade. Obrigada pelo comentário e boa leitura.
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