terça-feira, 8 de abril de 2014

Carneiro: O eterno militante

Em 25/12/2012, publiquei artigo de Opinião no jornal Correio do Povo sobre os 90 anos de Augusto Carneiro, completados naquela data. Ele faleceu ontem (07/04/2014), deixando uma ausência nos corações de todos que seguiam seus ideais e o admiravam por lutar tanto pela preservação da natureza.
Ao longo de minhas pesquisas, Carneiro foi presença constante, pois consultei seus arquivos e o entrevistei inúmeras vezes. Com isso, tornamo-nos amigos.
Minha singela homenagem a esse amigo e militante - que agora, sim, ocupará a eternidade - é compartilhar aquele texto, de cunho biográfico, que ganha ainda mais sentido agora. 


Elenita e Carneiro, Novembro/2012


O eterno militante: 90 anos de Augusto Carneiro


Elenita Malta Pereira[1]

            
       
Contador, funcionário público e advogado de profissão; militante político por vocação, Augusto Carneiro nasceu em Porto Alegre, em 31/12/1922. Ao longo desses 90 anos, participou de muitas histórias. 
       Em 1942, quando navios brasileiros foram afundados pelo Eixo, Carneiro saiu às ruas de Porto Alegre para protestar contra Hitler e Mussolini. Ele só não se alistou para a guerra porque precisava prover o sustento da família, já que sua mãe ficara viúva. 
           Entrou no Partido Comunista nos anos 40, quando tornou-se livreiro. Viajava de trem pelo interior do Estado distribuindo literatura de esquerda. Como outros correligionários ao redor do mundo, Carneiro deixou o partido em 1956, quando soube das atrocidades cometidas por Stalin.
         Foram as crônicas de Henrique Luiz Roessler que trouxeram uma nova perspectiva para sua vida. Publicadas às sextas-feiras, no Correio do Povo Rural, entre 02/1957 e 11/1963, as crônicas de Roessler abordavam as questões ambientais daquele contexto: a caça e pesca ilegal, o desmatamento, a crítica ao progresso, à poluição, etc. Carneiro sempre fala que as crônicas de Roessler o “ecologizaram”. Desiludido com as promessas socialistas, ele assumiu uma nova luta política: a proteção da natureza.
      Em 1971, quando Lutzenberger e Carneiro se encontraram, houve afinidade de interesses: ambos eram naturalistas e preocupados com a devastação do ambiente. Reuniram um grupo consciente da situação e fundaram a Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (AGAPAN). Grande defensor dos parques, Carneiro trabalhou com Lutzenberger na constituição do Parque da Guarita, do Parque de Itapuã e da Reserva do Lami, entre outros. Mais do que companheiros de luta, tornaram-se grandes amigos.
       Carneiro não aparecia tanto quanto Lutzenberger, pois sua atuação se dava nos bastidores. Mas ela era fundamental. Grande parte dos escritos de Lutzenberger só foi publicada graças ao trabalho de arquivo de Carneiro. Ele também promoveu a publicação de uma coletânea das crônicas de Roessler, em 1986. Essa foi a estratégia utilizada por Carneiro para “ecologizar” as pessoas: a publicação e distribuição de livros e panfletos. Quem o conhece sabe que, ainda hoje, não é possível sair de sua casa sem levar algum impresso sobre questões ambientais. 

Parabéns pelos 90 anos, Carneiro!

E obrigada por tudo, eterno militante!

[1] Historiadora. Doutoranda em História na UFRGS.

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