sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

Escravidão, doenças e práticas de cura no Brasil

Divulgamos o link para download grátis do livro Escravidão, doenças e práticas de cura no Brasil, organizado pelos professores Tânia Salgado Pimenta e Flávio Gomes (2016). A obra é fruto do projeto de pesquisa financiado pelo CNPq/Fiocruz.


TEXTO DA ORELHA:

Escravidão, Doenças e Práticas de Cura é livro que vem cumprir papel fundamental. Organizado por dois pesquisadores experientes da área da escravidão e saúde, essa antologia de textos representa um excelente exemplo de como os estudos da escravidão vêm desbravando fronteiras novas a partir da combinação do uso de riquíssimas fontes documentais, abordagens renovadas, problemáticas complexas. Nesse caso, explora-se um novo campo de interesses, que articula a história da saúde e da doença durante a vigência desse sistema no Brasil. Esses estudos sinalizam a possibilidade de recuperação e análise de uma história do corpo – entendido simultaneamente como biológico e social/cultural – capaz de, mesmo sem negar a dureza do regime de trabalho, superar as narrativas do corpo torturado dos africanos no tráfico atlântico. As histórias de apropriação sistêmica do aparelho biológico do escravizado para o trabalho, por parte dos senhores, são agora revistas a partir da agência da justiça, do olhar médico e dos próprios africanos.

Trata-se, pois, de uma perspectiva original, que ambiciona romper a barreira do silêncio para dar espaço aos corpos de pessoas que, mesmo sendo escravizadas, ativamente apropriaram-se daquilo que ninguém jamais será capaz de possuir completamente. Se, juridicamente falando, o corpo do escravo era tido como propriedade alheia, desprovido de vontade própria ou autonomia, na prática sabemos que corpos são também fronteiras para a expressão da cultura, carregam linguagens próprias, confirmam hábitos, crenças e afetos. Isso sem esquecer do seu papel como território de resistência. 

A historiografia internacional sobre escravidão nas Américas tem ressaltado a importância do estudo das experiências do corpo escravo, enfocando, substancialmente, as experiências femininas de escravização, influenciadas pela vivência da maternidade. Esses estudos críticos têm imposto uma reflexão a respeito das complexas questões relacionadas à instituição da escravidão; sistema baseado na apropriação legal do corpo e da força de trabalho e perpassado, igualmente, pela condição de gênero. A mulher escravizada e seu corpo foram duplamente apropriados: como ferramenta de trabalho geradora de riquezas e como espaço de reprodução da escravidão. O estudo da maternidade escrava, atravessada como foi pelas questões de gênero, raça, região e geração, requer o enfrentamento de problemas complexos, como o da violência sexual, da miscigenação e da impossibilidade de tais mulheres de fato atuarem como mães de seus filhos. Consideradas como reprodutoras de seus próprios filhos, a escravidão lhes negava o direito à maternidade; isto é, não considerava a mulher escrava como portadora dos direitos de amamentar, cuidar e zelar de seus próprios filhos e filhas. Ao mesmo tempo que alijava os homens escravos da vivência da paternidade. 

Lilia Schwarcz e Maria Helena Machado.

Para baixar o livro, acesse AQUI.

Boa leitura!

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