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Henrique Roessler |
Por Elenita Malta Pereira
Historiadora e biógrafa de Roessler
Há 50 anos, em 14/11/1963, calou-se a pena de um dos
mais importantes cronistas ambientais que o Brasil já teve, Henrique Luiz
Roessler. Nas páginas do Correio do Povo
Rural, às sextas-feiras, publicou cerca de 300 crônicas, entre 1957 e 1963.
Não tinha diploma universitário, mas seus textos eram dignos de jornalista
experiente: usando e abusando de uma fina ironia, atingiam em cheio seus
leitores.
Roessler nasceu em Porto Alegre em 16/11/1896, mas
passou a maior parte da vida em São Leopoldo, onde ocupou os cargos de Capataz
do Rio dos Sinos, Delegado Florestal e Fiscal de Caça e Pesca. Essas funções
demandavam vistorias pelo Sinos e diligências em todo o RS; com as viagens, conheceu
a realidade do Estado e ficou chocado com a destruição que encontrou já nos
anos 1930. Em 1955, Roessler criou a primeira entidade ambientalista do RS, a
União Protetora da Natureza (UPN).
Em
suas crônicas, Roessler denunciava a degradação do ambiente e oferecia
soluções, relatava as atividades da UPN e conclamava os leitores à ação. Os temas mais frequentes de seus textos eram
a poluição das águas, a questão florestal, a caça (especialmente de passarinhos),
os direitos dos animais, a educação para a proteção ambiental, o questionamento
da noção de progresso, a vida nas grandes cidades e a alienação humana perante
a natureza.
Para
se ter uma ideia da atualidade das ideias de Roessler, nas páginas do Correio ele denunciava o desrespeito ao
Código Florestal e a impunidade aos contraventores, lamentando que as leis não
eram aplicadas “com a necessária rigidez”; apontava medidas de tratamento de
esgotos que, se cumpridas pelas indústrias, acabariam com as mortandades de
peixes nos rios; manifestou-se contra a vivissecção e a utilização de animais
como cobaias nas pesquisas científicas; condenou o uso de pesticidas, antes
mesmo de Rachel Carson. Em várias oportunidades, criticou a forma como o
progresso era concebido pelo Ocidente: distante da natureza, a vida se tornava
“mais neutra, técnica, fria, autômata, anônima e interesseira”.
Hoje, em que presenciamos a agonia dos rios e
oceanos em todo o planeta, a queimada histórica de nossas
florestas e a tragédia de inúmeras espécies ameaçadas, as palavras de Roessler
ainda fazem sentido. Se fosse vivo, ele estaria lutando por leis mais rigorosas
e escrevendo textos críticos e mobilizadores sobre as temáticas atuais.
Continuaria mostrando que a proteção da natureza é vital para o futuro de todas
as espécies, inclusive a nossa.
Artigo publicado no jornal Correio do Povo, em 14-11-2013, p. 2.
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