sábado, 21 de setembro de 2013

Dia da árvore: Sem árvores, nenhuma vida

       
Desenho que acompanhava crônica de Roessler "Desligar de tudo na floresta" (Correio do Povo, 06/04/1962)
         Para celebrar o Dia da Árvore, compartilho um texto meu publicado originalmente na Zero Hora (04/06/2011), aqui com algumas modificações, sobre a defesa de Henrique Roessler às florestas. Nos anos 1940-60, os governantes organizavam plantios de árvores nas praças públicas, um acontecimento de grande alvoroço, com participação de políticos, alunos, professores e população em geral. Para Roessler, esses momentos eram "simulacro para embair a opinião pública, porque o reflorestamento não foi realizado, a não ser em relatórios fantasiosos feitos nos gabinetes para mistificar a triste verdade" (crônica "Festa da Árvore diferente", Correio do Povo, 16/09/1960). Para ele, não bastava o dia 21 de setembro, o incetivo ao plantio de árvores e ao reflorestamento deveriam ocorrer durante o ano todo.

 
Sem árvores, nenhuma vida
Elenita Malta Pereira

                 Numa campanha de proteção às florestas organizada pela ONU em 2011, o enfoque recaiu sobre os serviços que as florestas prestam ao planeta e à humanidade. Essa argumentação não é nova, já foi utilizada por um legítimo protetor da natureza rio-grandense e brasileira: Henrique Luiz Roessler. Segundo Roessler, que atuou nos anos 1940-60, a questão florestal era o problema número 1 do Brasil. Conhecedor da realidade das matas gaúchas e brasileiras, deixou preciosos apontamentos em diversos artigos sobre o tema.
           Em um deles, intitulado “Desligar de tudo na floresta”, defendeu o lema “Sem mata, nenhuma vida”, argumentando sobre os benefícios que as florestas nos oferecem. Para Roessler, a humanidade procurava nelas isolamento, descanso de espírito, recreação, recuperação de forças e saúde. Não haveria medicamento melhor contra as doenças provocadas pela “permanente tensão da vida moderna”, como o enfarto, as doenças nervosas, e colapsos em geral. Na farmácia da natureza, “desligar” seria o melhor remédio.
        Por nos proporcionarem saúde, felicidade, e por serem indispensáveis para o equilíbrio biológico, Roessler defendia a proteção das florestas como uma das principais responsabilidades dos governos e da sociedade.   No artigo “Florestas ou desertos?” (09/03/1962), ele não hesitou: quem destrói a natureza comete um crime, que exige punição. O problema não era a falta de legislação – já havia Código Florestal desde 1934 – e sim a falta de seu cumprimento. Para Roessler, “só pode ser considerado bom governo aquele que cuida da natureza”, que é bem de interesse comum para todos os habitantes do país.
          O problema maior, já denunciado por Roessler naquela época, era o imediatismo na exploração dos elementos naturais, como se não houvesse futuro. Só que isso não mudou, ainda se age no Brasil como os primeiros colonizadores, como se as florestas fossem inesgotáveis. Passados 50 anos da escrita dos textos de Roessler, pouco temos a comemorar. Um Código Florestal que retrocede na proteção às matas foi aprovado, no dia seguinte ao assassinato do casal de ambientalistas José Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo (mortos por tocaia, no Pará, em 24/05/2011). Enquanto o Estado não se fizer presença constante nos locais de conflito - especialmente na Amazônia -, as florestas e seus protetores continuarão ameaçados. 
          Em Porto Alegre, em fevereiro de 2013, jovens subiram nas árvores em torno do Gasômetro para que não fossem cortadas, lembrando o episódio protagonizado por Carlos Dayrell em 1975, quando este impediu o corte de tipuanas na construção do Viaduto Imperatriz Leopoldina. A prefeitura promoveu uma série de derrubadas em praças e avenidas, com a justificativa de que isso é necessário para o andamento das obras da Copa do Mundo de 2014. Passados quase 40 anos entre os dois eventos, a mentalidade dos governantes não mudou, muito pelo contrário, as justificativas mudaram mas os cortes parecem ter se intensificado.
            Se temos pouco a comemorar neste 21 de setembro, pelo menos a lembrança da combatividade de Roessler pode ser um alento. A proteção das florestas e árvores em geral ainda é um dos temas mais importantes do Brasil. Na verdade, é um dos maiores desafios, neste século 21. É preciso que o país avance nesse assunto. Afinal, as árvores contribuem, em grande parte, para a nossa maior riqueza, a vida.


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