"Ao contrário
dos não índios, que pensam que a terra lhes pertence, os guaranis acreditam que
pertencem a uma determinada terra. Essa crença continua a alimentar sua notável
persistência em voltar a um lugar que, segundo eles, são espiritualmente ligados".
A revistaNational Geographicde agosto/2013 traz uma boa reportagem
sobre os conflitos de terras no Mato Grosso do Sul entre grupos
indígenas guaranis e agropecuaristas. A situação é muito complexa.
De um lado,
segundo a matéria, "os guaranis foram um dos primeiros grupos indígenas a entrar em contato com os europeus tão logo desembarcaram na América do Sul, há mais de 500 anos. O território tradicional desses nativos abrangia grande área do Paraguai, o sul do Brasil e as províncias argentinas de Corrientes e Entre Rios, assim como partes do Uruguai e da Bolívia. Hoje, a população guarani, de pouco mais de 250 mil indivíduos (cerca de 35% da população original), distribui-se quase toda pela mesma região, dividida em três grandes grupos tribais: Kaiowá, Ñandeva e M’byá. O Kaiowá (“Povo da Floresta”, na língua nativa) é o mais numeroso. Dos 60 mil guaranis que vivem em Mato Grosso do Sul, 50 mil são kaiowás. Como esse povo não conhece a escrita, e transmite suas tradições pela memória oral, há poucos documentos que registrem seu passado. Sabe-se, porém, que eram, em parte, nômades, muito ligados à natureza e à terra, tanto na luta pela sobrevivência como em termos espirituais".
Por outro lado, as terras a que os guaranis julgam
pertencer estão nas mãos de fazendeiros e pecuaristas, que derrubaram a
floresta e hoje cultivam extensas monoculturas de soja ou criam milhares de
cabeças de gado. Ainda no século XIX, "o governo loteou as terras a
colonos para que povoassem a fronteira com o Paraguai, região vulnerável e
problemática que foi cenário da Guerra do Paraguai, entre 1864 e 1870 – até hoje,
o maior conflito armado internacional travado na América do Sul. Quando os
fazendeiros passaram a cercar suas propriedades e expulsar os índios, os
atritos começaram".
Plantação de soja na região
Visões contrárias sobre a posse da região estão em choque, causando mortes frequentes de indígenas. O Estado não cumpre seu papel de tutor dos indígenas, não reconhece suas terras, nem define se vai indenizar os agricultores que ocupam o local. Os agricultores e pecuaristas não vão sair, sem indenização. Os indígenas resistem enquanto podem, na crença de que pertencem àquelas terras. Enquanto o caso não se define, mais mortes e mais devastação do ambiente ocorrem, já que tanto a mata tem sido derrubada, quanto o solo vem se contaminando com os pesticidas maciçamente empregados nas plantações de soja.
Sobre o assunto, está disponível o filme "Terra Vermelha", no Youtube. Vale a pena assistir.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe aqui seu comentário