terça-feira, 29 de abril de 2014

Gênesis - Sebastião Salgado

Gênesis: algumas reflexões para a história ambiental
     
     A exposição Gênesis, de Sebastião Salgado, é algo tão impactante e sublime, que mereceria ser assistida por cada um dos habitantes do planeta Terra. Se você tiver a oportunidade, não deixe de fazê-lo, pois vale a pena demais.  Ela fica em Porto Alegre até o dia 13/05/2014. Após essa data, seguirá para Belo Horizonte, onde ficará entre 29/05 e 25/08/2014. 

      Em Gênesis, como o próprio título indica, o mundo aparece como seria desde sua criação. Os personagens principais retratados são tanto elementos da natureza como grupos humanos "intocados", no sentido de que se encontram ainda vivendo como se o capitalismo, a "modernidade" e o "progresso" não existissem - como viviam seus ancestrais há milênios. Para o historiador ambiental, a exposição desperta interessantes reflexões.

As pessoas vivem nesse vale de modo semelhante aos seus antepassados, nos tempos bíblicos. Sebastião Salgado Etiópia, 2008 (Foto de divulgação).

      Como desenvolveu Antonio Diegues, em seu livro O mito da natureza intocada (1994), não existe natureza que não tenha sido tocada pelo homem. Mesmo esses locais remotos visitados por Salgado foram modificados, ainda que de forma mínima, pelas populações que ali vivem. Eles domesticam animais para alimentar-se,  locomover-se e extraem todos os recursos de que precisam para sobreviver diretamente de seu ambiente natural. Isso gera uma dependência total do meio. Obviamente, esses povos teceram e ainda tecem relações de profunda integração com a natureza. Seus hábitos são infinitamente mais sustentáveis que os da cultura ocidental. 

Índios no Alto Xingu, MS,2005. Sebastião Salgado (Foto de divulgação).

      Salgado encontrou lugares e povos assim no Brasil, tribos indígenas no Alto Xingu e na Amazônia. 

Mulheres da etnia Zo'é, Pará, Amazônia. Sebastião Salgado (Foto de divulgação).

     Os indígenas também produzem impactos no ambiente, como demonstraram pesquisas sobre a morte de aves para produzir enfeites com suas penas coloridas, e sobre os efeitos da coivara na Mata Atlântica (Warren Dean, A Ferro e Fogo). Com isso, a história ambiental não condena as práticas indígenas, muito pelo contrário, ao pesquisar sua historicidade, devolve aos índios o papel de sujeitos da história, tal como os brancos. E como sujeitos da história, que transformam o ambiente para sua sobrevivência, de modo muito mais sustentável que os brancos, eles precisam ter todos os direitos garantidos, principalmente o direito à terra. Até porque já é fato verificável que as maiores porções de floresta conservadas do Brasil estão nas terras indígenas regularizadas.   

     Mas a exposição mostra também lugares em que os humanos "modernos" não se atreveram a habitar. Felizmente, eles parecem tão inóspitos, que permanecem muito "selvagens" para as atividades capitalistas. 

Iceberg, Península Antártica, 2005. Sebastião Salgado (Foto de divulgação).

Parque nacional Grand Canyon, Arizona-EUA, 2010. Sebastião Salgado (Foto de divulgação).

      No entanto, esses locais, mesmo inóspitos e distantes, não estão seguros. O Yukon, no Canadá, onde fica o Parque Nacional de Kluane, fotografado por Salgado, está sob sérias ameaças, já que foram descobertas enormes jazidas de ouro no local, como mostra reportagem recente da National Geographic. A mineração é uma das grandes ameaças desses territórios, assim como da Amazônia.  

Parque Nacional de Kluane, Canadá. Sebastião Salgado (Foto de divulgação).


     A exposição permite refletir sobre o que poderemos perder, com as consequências do aquecimento global. De certa forma, essas paisagens e culturas permanecem nas fotos como santuários, berços da vida, exemplos de como eram alguns ambientes que as atividades humanas já transformaram, e em muitos casos, destruíram. Além de proporcionar êxtase e deleite pela beleza capturada por um fotógrafo de sensibilidade ímpar, as fotos de Salgado não deixam de ser um alerta para nós humanos cuidarmos melhor do nosso ambiente, para que procuremos relações mais sustentáveis e não predatórias. 

      Essas são algumas reflexões possíveis apenas. Felizmente essa obra de arte magnífica está aberta a múltiplas leituras. 

Tartaruga em Galápagos, 2004. Sebastião Salgado (Foto de divulgação).

     Para saber mais sobre Sebastião Salgado, assista à aula magna que ele proferiu na UFRGS, em março/2014:





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